psicanálise antropofágica (identidade, gênero, arte)
O sonho deste livro talvez seja, assim, o de juntar o singular ao político. De declinar o desejo como pensamento, como faz a arte. E acompanhar os traços que algumas mulheres artistas fazem no mundo, como se fossem mapas a nos indicar modos de subvertê-lo. Gostaria que esta proposta contribuísse para uma descolonização do pensamento, apontando vias para que devoremos nossos grandes mestres, sim, mas para que possamos expeli-los um tanto, também – para que os comamos juntos, em grande banquete, todos à roda, deglutindo uns aos outros e digerindo a pirâmide do poder para dela vomitar o mosaico. Por isso o título brinca com a antropofagia de Oswald de Andrade e com seu gesto de deslocar para o outro nossa claudicante “identidade” – para tentar engoli-la e devolvê-la em baba. Para recusar qualquer miragem de identidade tropical ou carnavalesca e assumir com seriedade que se fala sempre de certo lugar, de uma posição singular assinalada como um x em uma confusão de linhas perspectivas nas quais se marcam com força aquelas do poder e da dominação. E para reconhecer que a psicanálise visa isso, com o descentramento do sujeito: medir suas coordenadas em relação ao ‘centro’ e escutar sua fala periférica. Este livro é esta aposta, que talvez não seja muito diferente daquela que cada analista faz ao lado de alguém que o designe como tal. É este gesto, tentando transmitir-se. (página 4) referência bibliográfica ficha técnica disponível para compra
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O que liga esses ensaios entre si é um emaranhado. Eu mesma não tinha percebido bem, quando comecei a juntá-los. Só quando eles me fizeram escrever mais e mais – e decidir que era impossível apenas reunir textos prontos – foi se delineando sua, digamos, identidade: a da urgência. Alguns foram escritos como reação a acontecimentos recentes, na política, na arte, na circulação da psicanálise. Outros foram escritos por incitação de obras de artistas mulheres e hoje atuantes na cena brasileira (à exceção de Lygia Clark). Entre uns e outros, os fios foram surgindo para mim mesma de forma complexa e surpreendente, cruzando gênero e identidade, como se, para tentar responder à questão de nosso tempo e de nosso lugar geopolítico – aquela de como relacionar a subversão do sujeito tematizada e incitada pela psicanálise à luta contra a necropolítica, o racismo e o neocolonialismo predatório – fosse necessário que eu respondesse, singela e singularmente, como mulher.
capa
RIVERA, T. Psicanálise Antropofágica (identidade, gênero, arte). 1. ed. Porto Alegre: Artes&Ecos, 2021.
título: Psicanálise Antropofágica
isbn: 9786587457055
idioma: Português
encadernação: Brochura
formato: 12 x 18
páginas: 165
ano de edição: 2021
edição: 1ª
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