( tania rivera )

O livro de vidro


sinopse
Como no livro Fora da Imagem, publicado no ano passado, trata-se do que considero como “ensaios entre imagem e palavra”: experiências que mesclam teoria e ficção na tentativa de assumir e explicitar a dimensão performativa de todo escrito e de cada reflexão. Eles se perguntam como tratar o acontecimento poético – e o sujeito que ele engendra na cultura – sem cair no engano de imaginá-lo como objeto que um sujeito neutro seria capaz de sobrevoar de fora para produzir conhecimento. Cada um deles declina, de forma singular, o gesto de se implicar – política e poeticamente. E como algum sujeito só se faz presente, sempre, em jogo com um outro, eles eventualmente convocam imagens e palavras de outros, delas se apropriando

resenha
Não basta abrir as telas e as janelas, infinitamente, e por fetiche espiar a palavra ao lado, mesmo “se o cara quiser se atirar por ela”, mesmo se de fato ele se atirar. “A escrita”, sabemos agora, “é sempre alheia”, de modo que é inócuo arriscar apenas a própria vida. Não é suficiente escrever um livro, mesmo que seja um livro “concha, folha, chiclete, bilhete, pinça, binóculo, bolinha de papel”. Não adianta chamar os pais: Borges, Mallarmé, Guimarães, Kafka, Breton, Blanchot (esses apenas alguns dos nominados); cantar as músicas (tudo começa com música, como aqui), sabendo-se morrente. Mas também não dá para não fazer livro algum, para brandamente calar-se, pois “o silêncio é impossível” - como bem o sabem Blanchot e Maria, a espantosa empregada de Dona Zulmira. Os livros vivem, e nós à mercê deles. “Multiplicam-se à noite, como coelhos, os livros.” Podemos fazer sexo com eles, mas parece-me que só podemos ser por eles penetrados. Um livro, logo, merece radicalizar a outridade da escrita, escancarar todas as janelas, violar todos os sonhos, alterar todas as memórias, profanar toda História, desconcertar toda ficção, aviltar a opacidade de toda imagem. Portanto, um livro - se livro - merece ser de vidro. Engendrado pela sofisticada arquitetura dos avessos. Não com o objetivo de produzir a velha tensão entre o frágil e o vigoroso, ou entre o público e o privado, mote do uso deste material pela arquitetura moderna, mas para falar de uma radical não-coincidência de si consigo mesmo que só pode ser performada matericamente. É assim que, parece-me, Tania Rivera compõe seu Livro de Vidro. (Trechos da resenha inédita de Thiago Grisolia sobre O livro de vidro)


capa

referência bibliográfica
RIVERA, Tania. O livro de vidro. Rio de Janeiro: o autor, 2019.

ficha técnica
título: O livro de vidro
ano de publicação: 2019
primeira edição

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