( tania rivera )

guimaraes rosa e a psicanálise: ensaios sobre imagem e escritaㅤ


sinopse
Entre imagem e escrita, faz-se literatura. E psicanálise. A teoria freudiana constitui-se em um diálogo constante com a literatura, paralelamente àquele estabelecido com a clínica. A psicanálise, por sua vez, chega quase a se fazer produção literária, e sem dúvida imprimiu profundas marcas na literatura do século XX, ao pôr em relevo uma irreversível desestabilização do sujeito – e da linguagem. A literatura de Guimarães Rosa percorre como poucas as tortuosas veredas que compõem também o terreno da psicanálise. Dentre nossos grandes escritores, é aquele que mais explora tal deslizamento do significante, tal errância do sujeito, num fio tênue entre imagem e escrita que nos põe vertiginosamente em questão. Tania Rivera tece um delicado diálogo entre alguns contos clássicos de Guimarães Rosa – como “A terceira margem do rio”, “O espelho”, “A menina de lá” –, textos de Freud e Lacan e questões oriundas da prática clínica. Composto por ensaios independentes, gira em torno do enigma da constituição do sujeito que coincide com o mistério da origem da própria literatura. Os capítulos de Guimarães Rosa e a Psicanálise exploram ressonâncias e contrapontos, sem perder de vista a especificidade de cada campo, mas relançando, de um para o outro, questões fundamentais a respeito do sujeito contemporâneo. (sinopse proposta pela editora).

resenha
O ponto inicial que articularia Guimarães Rosa à psicanálise está explicitado na introdução da autora: “A interpretação psicanalítica visa não à produção de um sentido em uma explicação que fixa o sujeito, mas à produção de novas palavras em um estranhamento do sujeito” (p. 9), exatamente o que propõe a linguagem de Rosa ao utilizar a palavra “como se ela tivesse acabado de nascer, para limpá-la das impurezas da linguagem cotidiana e reduzi-la a seu sentido original”, conforme entrevista do escritor a seu tradutor Günter Lorenz. Exemplos de alteração de significantes (por afixação, aglutinação ou outros procedimentos), causando estranheza e desestabilizando o mundo familiar dos leitores, estão espalhados pela obra inteira: sozinhozinho, nenhão, prostitutriz, orfandante, sussurruído, embriagatinhar etc. Outras vezes, são desmontados sintagmas ou provérbios inteiros de modo a ferir nossa percepção e obrigar-nos a refletir sobre seus sentidos: “Nu da cintura para os queixos”, “não sabiam de nada coisíssima”, “infelicidade é questão de prefixo”, “antenasal de mim a palmo” etc.

Essa atenção concentrada nas virtualidades da língua e seus neologismos, arcaísmos, indianismos e estrangeirismos, tão abundantes no léxico rosiano, parece justificar o enorme interesse que Rosa desperta na psicanálise, sobretudo a lacaniana – que é a teoria de referência de Rivera. Não é só como alquimista da palavra que o escritor mobiliza analistas, mas principalmente por seus textos serem fonte de conhecimento sobre o homem. Aliás, é pelo manuseio inventivo do idioma que esse saber se manifesta. Ao definir o conjunto de seu livro, Rivera esclarece: “Os ensaios que o compõem são independentes e podem ser lidos de forma autônoma, aparentando-se contudo não apenas quanto à proposta geral e ao material utilizado, mas por girarem todos em torno do enigma da constituição do sujeito – que coincide com o mistério da literatura” (página 10). (Trecho de resenha publicada por Yudith Rosenbaum: ROSENBAUM, Y. Resenha de Tania Rivera, Guimarães Rosa e a Psicanálise. Ensaios sobre imagem e escrita. Portal da UOL, 2005).

trecho
Na célebre entrevista concedida a Günther Lorenz, Guimarães Rosa afirma conhecer muito bem a literatura de língua alemã, referindo-se entre outros a Goethe, Thomas Mann, Rilke e à "Importância monstruosa, espantosa de Freud". "Todos esses autores", prossegue o escritor, "me impressionaram e influenciaram muito intensamente, sem dúvida". Talvez a psicanálise tenha mesmo uma importância "monstruosa" para a literatura do século XX. Com Joyce de um lado e a "escrita automática" dos surrealistas de outro, ela ajudou a abrir possibilidades estilísticas que a obra do nosso Guimarães Rosa explora de modo único. Mais que aparecer como tema da escrita rosiana, a psicanálise se deixa entrever ali em sua fonte expressiva, de maneira complexa e sem dúvida ligada a um "espírito de época". 

Este livro traça tentativas de compreensão do sujeito através de alguns contos de Guimarães Rosa postos em diálogo com textos psicanalíticos e com questões cçínicas afins. Os ensaios que eu componho são independentes e podem ser lidos de forma autônoma, aparentando-se contudo não apenas quanto à proposta geral e ao material utilizado, mas por girarem todos em torno do enigma da constituição do sujeito — que coincide com o mistério da origem da própria literatura (página 29).

capa


 

referência bibliográfica
RIVERA, T. Guimarães Rosa e a Psicanálise. Ensaios sobre Imagem e Escrita. 1. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005. v. 1. 100p.

ficha técnica
título: guimaraes rosa e a psicanálise: ensaios sobre imagem e escrita
isbn: 9788571108585
idioma: Português
encadernação: Brochura
formato: 14 x 20,8
páginas: 104
coleção: transmissão da psicanálise
ano de edição: 2005
ano copyright: 2005
edição: 1ª

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