convite da exposição
texto curatorial
“A única arte que presta é a arte anormal”, dizia Flávio de Carvalho ao expor obras de pacientes do Hospital Psiquiátrico do Juqueri em 1933. Mas existiria arte “normal”? A arte parece querer sempre fugir da “norma”, ou seja, do hábito e das regras que delimitam nossa realidade compartilhada. Ela abre janelas na vida cotidiana e nos convida a construir novos mundos.
O sofrimento psíquico intenso nos leva também, às vezes, a abrir janelas na realidade e delirar, ou seja, sair dos trilhos, dos sulcos do pensamento compartilhado e tomado como “correto”. Isso mostra que a realidade não é única e evidente, ela é construída por nós e pode ser alterada de diversos modos. Sua transformação no delírio, para o psicanalista Freud, é uma tentativa de “cura”, ou seja, tenta abrigar e conter nossa dor, reinventando o mundo para que nele possamos encontrar um lugar.
Mas essa atividade – humana, demasiado humana – não está restrita a situações de sofrimento extremo. Podemos dizer “que delírio!” ao falar de momentos intensos e que podem envolver prazer, alegria, invenção. O delírio pode aparecer na festa, na brincadeira, mas também na rebelião, na revolta contra uma sociedade injusta e violenta. Ele surge no Carnaval, por exemplo, suspendendo o lugar social e o gênero de cada um. Ou na gíria, que retorce a língua e a faz dizer outra coisa. Talvez a poesia seja sempre delirante, e a arte seja o campo no qual o delírio mais se põe em jogo – e nunca se esgota.
Tomando seu impulso no projeto original de Paulo Herkenhoff, esta exposição afirma que os lugares do delírio são muitos e variados, e tenta assim explorar e questionar as fronteiras entre normal e patológico, entre arte e vida, entre o museu e o mundo. As obras apresentadas vêm de lugares diversos – do circuito artístico tradicional ou de instituições psiquiátricas, do campo de interseção entre terapia e arte ou de propostas diversas de interação e construção poética entre sujeitos “fora dos trilhos”. Elas formam aqui um campo de suspensão no qual cada um de nós é convidado a se deslocar de seu lugar habitual para inventar novos modos de viver com os outros.
Lugares do delírio convida a um passeio pela louca poesia da arte – aquela que já está, de alguma maneira, na vida, entre nós. Seu desejo secreto é de fazer com que ela escorra pelas frestas, pelas janelas, que ela fure essas paredes e ganhe o mundo.
Tania Rivera
lista de artistas
Alcina
Anamaria Fernandes e Michel Charron
Andrea Menezes e Marcelo Masagão
Anna Maria Maiolino
Arlindo Oliveira
Arthur Bispo do Rosário
Atelier Gaia – Museu Bispo do Rosário
Aurora Cursino dos Santos
Bernardo Damasceno
Carla Guagliardi e Stela do Patrocínio
Carlos Bevilacqua
Cildo Meireles
Claudio Paiva
Clóvis
Dias & Riedweg
Dora Garcia
Dudu Mafra
Fernando Diniz
Fernando Lima
Flávio de Carvalho
Geraldo Lúcio Aragão
Gina Ferreira
Grupo Arte e Cuidado, Jessica Gogan e Daniel Leão
Gustavo Speridião
Hélio Carvalho
Ioitiro Akaba
Ivan Grilo
João Jordão da Silva
José Bechara
Lasar Segall
Laura Lima
Leonilson
Luiz Carlos Marques
Luiz Guides
Lula Wanderley
Lygia Clark
Maria Leontina
Mathilde Monnier
Maurício Flandeiro
Miriam Chnaiderman
Natalia Leite
Osvaldo Vicente Francisco
Patrícia Ruth
Pedro França e Cia. Teatral Ueinzz
Raphael Domingues
Rede Fernand Deligny
Ricardo Alves Jr.
Rodrigo Paglieri
Solon Ribeiro
Tailan Coelho
Tarsila do Amaral
Wlademir Dias-Pino
fotos da exposição
Vista da entrada da exposição
Vista panorâmica da exposição, da esquerda para a direita: Cildo Meireles, Razão/Loucura, 1976/2017; Arthur Bispo do Rosário, Arco e flecha, s/d.; seguido por Ivan Grilo, Estudo para possíveis naufrágios, 2013 e Aviso aos navegantes, 2013; e Fernando Diniz, série Cinema, s/d.
Vista panorâmica da exposição, Cildo Meireles, Razão/Loucura, 1976/2017; Arthur Bispo do Rosário, Arco e flecha, s/d, 2013; seguido por Ivan Grilo, Estudo para possíveis naufrágios, 2013 e Aviso aos navegantes, 2013; Fernando Diniz, série Cinema, s/d. e Tapete digital, s/d.; Leonilson, Navio de Luzes, 2005
Cildo Meireles, Razão/Loucura, 1976/2017; Arthur Bispo do Rosário, Arco e flecha, s/d.
Cildo Meireles, Razão/Loucura, 1976/2017; Arthur Bispo do Rosário, Arco e flecha, s/d; e em primeiro plano, Carlos Bevilacqua, Betinha 1 - viagem a Netuno, 2013 (fotografia Everton Ballardin)
Carlos Bevilacqua, Betinha 1 - viagem a Netuno, 2013 (fotografia Everton Ballardin)
Vista da mesa onde estão dispostos os trabalhos da rede Fernand Deligny (Jacques Lin, Dominique Lin, Gisèle Durand e Jean Lin)
Seleção de páginas da publicação Cahiers de L'Immuable, rede Fernand Deligny (Jacques Lin, Dominique Lin, Gisèle Durand e Jean Lin)
Exibição dos mapas da rede Fernand Deligny (Jacques Lin, Dominique Lin, Gisèle Durand e Jean Lin)
Ivan Grilo, Estudo para possíveis naufrágios, 2013 e Aviso aos navegantes, 2013
Ivan Grilo, Estudo para possíveis naufrágios, 2013
Ivan Grilo, Aviso aos navegantes, 2013
Fernando Diniz, série Cinema, s/d; à frente: Luiz Carlos Marques, Sem Título, 2016; ao lado direito: Fernando Diniz, Tapete digital, s/d; Leonilson, Navio de Luzes
Fernando Diniz, série Cinema, s/d, à frente: Luiz Carlos Marques, Sem Título, 2016, ao lado direito, Fernando Diniz, Tapete digital, s/d, Leonilson, Navio de Luzes; abaixo: Clóvis, Sem Título, 2016 (fotografia Antonio Verrumo)
Arthur Bispo do Rosário, Colagem, s/d.
Leonilson, Fac-simile "Projeto para instalação O Navio", 1983
Luiz Carlos Marques, Sem Título, 2016
Acima: Leonilson, Navio de Luzes, 2005; abaixo: Clóvis, Sem Título, 2016; seguido por Arlindo Oliveria, Navegar, s/d.
Clóvis, Sem Título, 2016; seguido por Arlindo Oliveria, Navegar, s/d. (fotografia Everton Ballardin)
Ao fundo: Gustavo Spiridião, Sem TÍtulo, exceto para as obras Todos Somos Nuvens e Termo de Responsabilidade, todas são de 2017; em primeiro plano: Arlindo Oliveira, Navegar, s/d.
Vista panorâmica da exposição (fotografia Everton Ballardin)
Vista panorâmica da exposição (fotografia Everton Ballardin)
Em primeiro plano e logo atrás: Luiz Carlos Marques, ambos Sem Título, e ambos de 2016; em último plano Dudu Mafra, Stultifera Navis, 2014 (fotografia Everton Ballardin)
Gustavo Spiridião, Sem titulo, 2017; Arthur Bispo do Rosário, Barcos e Velas s/d. e Alvo de Batalha s/d; Osvaldo Francisco, Casa Futurista, 2015; Dudu Mafra, Stultifera Navis, 2014; Arthur Bispo do Rosário, Jangada, s/d; e Luiz Carlos Marques, Sem Titulo, 2016 (fotografia Everton Ballardin)
Vista panorâmica da exposição (fotografia Everton Ballardin)
Arthur Bispo do Rosário, Barca a Vapor, s/d. (fotografia: Everton Ballardin)
Da esquerda para a direita: Dudu Mafra, Stultifera Navis, Clovis, Sem Título, 2016; Wlademir Dias-Pino, Homem Vegetal, 1970/2017, fragmento da Enciclopédia Visual Brasileira (fotografia Everton Ballardin)
Wlademir Dias-Pino, Homem Vegetal, 1970/2017, fragmento da Enciclopédia Visual Brasileira (fotografia Everton Ballardin)
Em primeiro plano: Lygia Clark, Camisa de força, 1969/2016; e ao lado Bernardo Damasceno, A barquinha - nuvem, 2018; ao fundo Wlademir Dias-Pino, Homem Vegetal, 1970/2017, fragmento da Enciclopédia Visual Brasileira; e Laura Lima, Novos Costumes, 2006/2016 (fotografia Everton Ballardin)
Laura Lima, Novos Costumes, 2006/2016
Ao fundo: salas de exibição de alguns vídeos da exposição
Cildo Meireles, Cotolengo, 1974, seguido por Zero Real, 2013
Cildo Meireles, Zero Real, 2013
Acima: Bernardo Damasceno, A barquinha - nuvem, 2018; ao fundo Pedro França e Ueinzz, Ueinzz Mix #2 (o tarado de Copacabana), 1997/2017
Acima: Bernardo Damasceno, A barquinha - nuvem, 2018, ao fundo Pedro França e Ueinzz, Ueinzz Mix #2 (o tarado de Copacabana), 1997/2007
Vista panorâmica da exposição (fotografia Everton Ballardin)
José Bechara, Preta com verde (da série Open House), 2007
Bernardo Damasceno, Baú de vaidades, 2014
Pedro França e Ueinzz, Ueinzz Mix #2 (o tarado de Copacabana) (1997/2017); e acima Lula Wanderley e Wanderlei Ribamar, Insônia, (Eu vertical X Eu horizontal), 2016
Geraldo Lúcio Aragão, série Sem Titulo, década de 60
Em primeiro plano: Lula Wanderley e Wanderlei Ribamar, Insônia (Eu vertical X Eu horizontal), 2016
Detalhe de Lula Wanderley e Wanderlei Ribamar, Insônia (Eu vertical X Eu horizontal), 2016
Camisas de Força que compõem o núcleo Alterados Fashion Week, de autoria do Grupo de Ações Poéticas: Sistema Nervoso Alterado em colaboração com Lula Wanderley
EAT e Lula Wanderley, vista do núcleo de Psiquiatria Poética
Vista panorâmica da exposição
Em primeiro plano: Fernando Lima, Minilivros para montar, ler e escrever, 2002/2008
João Jordão da Silva, todos Sem Título e s/d.
Luiz Guides, Sem Título, s/d. e Natália Leite, Sem Título, s/d.
Aurora Cursino dos Santos, Sem Título, s/d.
Raphael Domingues, todos Sem Titulo, s/d.
Luiz Guides e Natália Leite, ambos Sem Título, s/d.
Detalhe de Natália Leite, Sem Título, s/d.
Conjunto de obras de Natália Leite, Sem Título, s/d.
Claudio Paiva, O raio prisioneiro, 2002
Tailan Coelho, Gaiola, 2014/2018
Nichos com poltronas e exibição de vídeos
conteúdos sobre a exposição
catálogo online
▸ acesse na página da danowski design
agenda curta: fala sobre a exposição lugares do delírio
▸vídeo
Museu dos Delírios. Notas sobre a Exposição Lugares do Delírio
▸ Ao Largo. , v.2018-1, p.1 - 1, 2018
entrevista concedida a Fátima Pinheiro
In Situ | Lugares do Delírio – entrevista com Tania Rivera
▸ entrevista
ficha técnica
Curadoria: Tania Rivera
Projeto Original: Paulo Herkenhoff
Assistente de Curadoria: Caroline D’Ávila
Produção Executiva: NU Projetos de Arte; Nathalia Ungarelli; Iara Freiberg Tomi; Mariane Sato
Projeto Expográfico: Estúdio Gru; Jeanine Menezes; Juliana Prado Godoy; Lia Untem;
Identidade visual e Projeto Gráfico: Danowski Design; Sula Danowski; Carol Müller Machado: Nathalia Lepsch;
Design de Luz: T19 Projetos; Carlos Eduardo Peukert
Montagem Fina: Install Produtora
Conservação: R&M Conservação de Obras de Arte
Adereçagem: Artos Cenografia
Projetos de Engenharia: Jarreta Projetos
Revisão de Textos: Maurício Ayer
Ação Educativa: Quadrado Projetos Culturais
Assessoria de Imprensa: Sofia Carvalhosa Comunicação