compro auri

Compro Auri - Union Square - Nova Iorque - 2012 

A Compro Auri é uma performance que consiste em pagar uma quantia em dinheiro para as pessoas escutarem uma trilha sonora. Quem ouvir aproximadamente três minutos de som no fone de ouvido recebe $1.00. O valor está relacionado a quantidade de tempo e ao custo médio das músicas comercializadas em plataformas pela web como por exemplo o iTunes. 

Compro Auri - Union Square - Nova Iorque - 2012 

 

TIME IS MONEY - ESCUTA É PRODUÇÃO 

O tempo destinado a escutar um material sonoro gera um produto intangível o AURI. Esta é lógica que será realizada durante Compro Auri nas ruas de Nova York.A performance joga com o paradoxo existente na relação comercial de produtos intangíveis, assim como a música, e o lugar da percepção como um trabalho de criação a ser remunerado. 

Compro Auri - Relevant Musik - Berlim - 2013 

 

 

CONTEXTO 

Compro Auri foi concebido em 2005-6 num contexto particular, durante o auge do comércio informal de CDs de mp3 existente nas ruas brasileiras, resultante das formas de compartilhamento e distribuição de música pela internet. 

A performance faz um cruzamento entre dois produtos nas praças e ruas brasileiras: 1) o ouro; e 2) o CDs de mp3. O título do trabalho remete a placas escritas "Compro Ouro" e ao camelôs que vendem CDs. 

Compro Auri - Festival Música Livre - SESC Pompéia - São Paulo - 2008

 

ECONOMIA DO SENSÍVEL

Definitivamente a experiência de escutar música sofreu muitas mudanças com os aparelhos domésticos (vitrolas, rádios, etc) e depois com os aparelhos portáteis como walkman e soundsystem portáteis. A coqueluche dos tocadores de mp3, celulares, iPods e toda a discussão em relação a compra, venda e transferência de músicas a partir da plataforma  p2p de compartilhamento de arquivos na Internet – como Napster, Emule, Soulseek, Kazza, entre outros - bem como a decisão das gravadoras em vender músicas pela rede revelam uma transformação radical daquilo que é comercializado hoje através dos aparelhos sonoros portáteis.

COMPRO AURI desloca as questões do comércio musical na web apresentando o Auri como produto de consumo a ser vendido no espaço urbano, como referência ao mercado informal na figura do camelô no contexto brasileiro. Se o comércio de música vem mudando radicalmente, o mesmo parece acontecer com o sentido que tem escutar música. Por que comprar música se é possível obtê-las de graça? Qual o sentido de pagar para escutar música?

A música aqui está colocada como um campo complexo que envolve o próprio modelo de comércio de bens imateriais e todo sistema de leis e mercado entorno da propriedade intelectual, bem como sua cadeia de mercado e a reposicionamento do lugar do ouvinte e seu papel no lugar do espectador como co-criador e o sentido coletivo e o valor comum oposto a mais valia.

Na tentativa de apontar situações de difusão da música que também passam pela regulação da percepção. Levando tal lógica ao extremo, nos perguntamos, não teríamos que inverter a ordem do mercado? Ao invés de pagarmos para escutar uma música não seria o contrário, que sejamos pago para escutar!

Pensando na quantidade difusa de mídias que habitam os territórios sonoros, a escuta hoje está sob um estado de consumo -produção incessante de sons e informações. O que os aparelhos sonoros móveis veiculam não é apenas música, mas um comportamento de escuta, um modo de subjetividade, onde não interessa o que você ouça, o importante é que esteja consumindo-ouvindo. Nesse contexto, a escuta é uma ato produtivo, que produz algo imaterial e gera um acúmulo virtual de mercado. COMPRO AURI tenta lidar com algum desses aspectos que envolvem a escuta e estratégias relacionadas a uma economia da percepção.

QUANTO CUSTA OUVIR?

O valor pago é calculado conforme uma média de custo de uma música comercializada pela Internet como por exemplo iTunes. Assim o custo estabelecido  de valor médio de U$1,00 por música escutada em torno de 3 minutos.

DO MATERIAL SONORO

Pautado nas falhas que os processamentos digitais possibilitam, a música foi concebida para lidar com o limite da percepção que o digital possibilita. A proposta é atuar em faixas de freqüências que estão no limiar de audibilidade, baixas e altas frequências, que o algoritmo de compactação MPEG Layer 3 (MP3), os aparelhos portáteis e fones de ouvidos operam. Texturas sonoras que beiram o inaudíveis e falhas que soam ou deixam de soar.

PERFORMANCE: 

  • Novembro de 2006 Av. Paulista evento Respública - São Paulo.
  • Setembro de 2007 SESC Pompeia evento Música Livre - São Paulo.
  • Junho de 2012 319 Scholes / Union Square - New York 
  • Junho de 2013 Festival Relevante Musik - Villa Elisabeth - Berlin

Na primeira versão existiu a possibilidade de participação pela Internet. O participante avisava por email sua conta bancária onde era feito depósito de R$1,50 após confirmação da escuta a partir do link enviado por email.

Artigo na Revista NEURAL.IT