brutalist headphone

brutalist Headphone - Redbull Station - São Paulo - 2016

Brutalist Headphone (headphone, concreto, mp3player) faz parte da série Intensidades Brutalistas criada durante a residencia artística na RedBull Station em São Paulo. 

 

Brutalist Headphone. Fone de ouvido, concreto, mp3 player. Redbull Station. São Paulo, 2016. ©Ignacio_Aronovich

 

Intensidades Brutalistas uma série de projetos (Um minuto de silêncio, Enchente, Fone Brutalista, Cartografia Urbana do Silêncio, Fade in Fade Out e Luminescence) criada durante dois meses na  residência artística da Rebull Station em São Paulo. Todos esses projetos surgiram como forma de elaborar minha sucetibilidade sensorial com a cidade. 

Após alguns anos vivendo fora retornar a São Paulo coabitando o prédio da Redbull Station nestes últimos meses foi uma experiência impactante. Situado no coração da cidade o prédio é como um organismo, exposto a intensidades por todos os lados. Abaixo, escondidos sob asfalto e cimento, fluem três rios que emergem em dias de chuva forte. Acima, os aviões e helicópteros rasgam o céu, emoldurado pelo horizonte verticalizado dos prédios. No meio disso, pressionando a audição, comprimindo a vida, ecoa a decidibilidade em combustão dos automóveis. 

Essa sobreposição de intensidades coloca em questão o sentido da cidade, que se aproxima do colapso. Um exemplo desse colapso está presente no “som” enquanto manifestação dos fluxos intensivos. Dados recentes apontam que 75% das reclamações na Promotoria do Meio Ambiente de São Paulo são referentes aos elevados níveis de ruído e perturbações sonoras. Esses números denotam o estado de afetação sob o qual estamos expostos. O efeito é o anestesiamento do corpo, da atenção e da matéria sensível, cotidianamente minados pelas intensidades, não só do som, como dos odores, luminescências, adensamentos e acúmulos sensoriais múltiplos.São Paulo, 01 julho 2016.

Assim como a cidade, o prédio da Redbull, que outrora foi uma subestação de energia, é atravessado por campos de forças que impregnam suas paredes. Habitar esse prédio fez disparar em mim reminiscências intensivas que transbordam a memória do espaço físico, contaminando a subjetividade. Foi perseguindo essas faturas sensoriais múltiplas e intensivas que emergiram os projetos aqui apresentados: Um minuto de silêncio*, Enchente, Fone Brutalista e Luminescência*, Cartografia Urbana do Aquietamento* e Fade in Fade Out*. Esses projetos formam o que chamei de Intensidades Brutalistas e partem da tentativa de elaborar, sensorialmente, experiências do intensivo, nem sempre tranquilas, que atravessam meu corpo em relação ao espaço e a cidade. 

Intensidades Brutalistas surge dos encontros corporais com o intensivo acústico, luminoso, odorífico, líquido, cinético de sensações e forças que anulam minha capacidade/potência de existir. Modos de ser afetado em relação ao  habitar,  transitar e ocupar. Os projetos partem de uma busca cotidiana por aberturas de vida frente o brutalismo que nos cerca. De uma forma ou de outra, os projetos revelam a tentativa de sinalizar forças disruptivas, traçar caminhos que abram anti-espaços, que também são desejos de outros intensivos possíveis. Uma busca por acessar intensidades diversas que estão por aí mas se apequenam frente à "bruta lida diária" de coexistência com a cidade. A proposta é ativar micropercepções que estão presentes no corpo, apontar saídas, muitas delas no campo sensorial, que necessitam ser inventadas como um conjunto de táticas como desacelerar, repousar, devanear, abrir campos de intensidades sutis que sinto serem tomados de assalto pelos efeitos brutalistas da cidade.

Sintetizando, Intensidades Brutalistas dialoga sensorialmente com o intensivo que atravessa o corpo em relação a cidade, o entorno e o prédio, valendo de táticas, deslocamentos e dissimulações sensoriais para manter a capacidade de potencializar corpo-vida ativa.

São Paulo, 1 Julho 2016.